O Eco dos Pássaros
zine digital | edição #5
o eco dos pássaros | próxima edição
Nota introdutória
Somos todos ecos.
No fundo tudo o que dizemos em conversa no café, a quem amamos, até a nós mesmos, é um eco do que ouvimos, noutro café, num filme, na boca de quem já amámos, ou na voz que nos lê por dentro os livros. É inegável que o meio nos molda. E que grande parte do que somos vem de lugares alheios. Muito se tem escrito sobre a arte e a imitação (mimética) sobre como o papel da arte seria o de imitar a natureza e como o deixou de ser...
As artes plásticas mudaram com a invenção da fotografia, visto que o virtuosismo técnico per si não acrescentava nada ao resultado da captura directa da luz.
Esta imitação do real de que falo, este eco do real, tem contudo uma peculiaridade que altera todo o jogo. O reflexo não é limpo e carrega em si as manchas que o espelho tem.
Somos feitos de ecos mas o eco que o mundo cria em nós é moldado quando ecoamos.
E talvez seja isto o que mais me interessa na arte... Não nos conhecemos uns aos outros, de alguma forma, tornamo-nos uns nos outros. E se a caneta é uma arma, a única guerra que cria é a de nos conhecermos a nós e aos outros e ao mundo. Conhecer também que somos o fundo resultado é causa de outros ecos...
Podemos, contudo, distorcer o que nos chega e tornar o eco que fazemos um bocadinho mais nosso. Podemos também não o fazer, ainda assim o filtro está sempre lá, por trás dos olhos. Dito isto, o que somos, está no eco que fazemos.
Tiago Marcos é curador da iniciativa “O Eco dos Pássaros”