Quem me Tira o Abstrato Tira-me Tudo
Quem me tira o abstrato tira-me tudo
tira-me o olfato
o tato
tira-me todos os sentidos
simplesmente tira-me tudo
vão passar quarenta dias desde do entrudo
e eu ainda não cheguei à mira
quanto mais ao Napoleão e ao Samuel
entrei em quarentena devido a não ter participado na última tertúlia
nos signos não sou leão
sou libra
quanto vale uma libra desde do Brexit
Breshit
escoceses que não querem ser
sabe-me a fel
sou um felino à caça dum pássaro
bitches brew no colo de Jesus
embrenhadas no cantar infinito
estou proibido de escrever pelo meu revisor
claro que o fruto proibido é o mais
apetece-me fazer um cunnilingus sem sabor dove
ouve o revisor pica-me o bilhete do 745
o cinto tem um buraco a mais
''Como vais?''
mais ou menos
não temendo
não tenho que aparecer
agrada-me a noite
agrada-me a sombra
tomba estátua
vai seminua
a Justiça
iça mais uns pedregulhos para essa tua pirâmide
não noto nódoa nenhuma que o Tide tire
mas não me contive a comer
pedaços de bolo como um porco
islamitas não comem porco
por que têm parasitas
e comem os próprios filhos
eu vou comer o meu aos beijos e abraços no meu colo até ele ter mais de cinquenta quilos
torço e troço pela chama imensa
densa nuvem
nu vem
nu vai
nu bai
tenho 5 checos em casa
e não fiz xeque-mate
sei lá se o papel é em mate ou reciclado
ou terá bandanas
sei que comer chocolate negro e bananas é bom para serotonina
abro a retina e a narina para a menina da minha mente
mente e menti mais uma vez
porque é tão fácil
ser aquilo que não sou
doou a dor que lhe quebrou o espírito e as costelas
eu não escrevo
pinto palavras
em telas brancas
a cor que me mete mais medo
eu cedo-lhe metade do meu espólio
sem apólice de seguro
ó António o teu discurso é tão desconexo
mais valia participares num daqueles debates que a RTP e a outras televisões promovem
ou senão num concurso, pede a ajuda do público e segue o curso do rebanho das ovelhas
a minhas orelhas estão vermelhas
como estivessem a falar de mim ou que as minhas mãos as apertassem e as torcessem
Martin Scorsese
estás a jogar um jogo comigo? Ou é só impressão
pois eu não posso joga-lo
pois o meu cérebro adora padrões
quase que não tenho limões na cozinha
um por dia não sabia o bem que fazia
como algo ácido na língua pode ser alcalino no corpo?! A minha ignorância é a minha azia e não se compara à maresia da minha ria
flácido Domingo
Plácido flamingo
está a minguar donde trago ostras e lapas
chupa-me bem esses percebes
olha-me esses tratos
percebes?! Sou mau-vizinho porque quero educar uma nação
começando por mim
e acabando na rua
espeto uma pua no dedo e tiro-a com um formão
as andorinhas já fizeram ninho na minha varanda
andas à cata dele
escarafuncha bem fundo nessa fossa nasal até fazer sangue escaravelho
diziam que eu era hipertenso
sou hiper
caralho que os foda
visto o casaco da soberba e da hipérbole
roda
roda
roda viva
sou obeso mórbido
mas não sou inspetor
não sou doutor
não sou nada
e nesse nada
''Bule meu filho
acarta
dobra a mola''
e eu só queria uns seios para aninhar e adormecer
nada me consola mais
André Horta
Digo sempre que não sou supersticioso e que sou um ser super lógico, mas é mentira, é uma mentira que prego a mim próprio, como as outras todas que vou espalhando entre a minha pessoa e os outros que vão fugindo de mim, pois senti-me o homem mais azarento do mundo.
Nasci a 13, no mesmo dia em que a minha progenitora também tinha vindo a este mundo, e imaginem quem também nasceu a 13?
O meu pai, mas não no mesmo mês. E esse número prosseguiu-me a minha vida toda. Mas isso não interessa para nada, o que quero demonstrar é que era uma pessoa negativa, bastante, odeie-me a mim, a todos e ao mundo, porque o reflexo do espelho não sorria para mim desde da infância, por vários motivos, por isso digo, a escrita salvou-me a vida, do suicídio, do ódio, aprendi a dizer que a pior droga que consumi foi o ódio, e olhem que consumi uma panóplia delas, até partir a escultura das trincheiras da primeira Guerra Mundial em que o meu cérebro se tornou, destrui-o em nano cacos, até tornar-me doente mental crónico, mas isso não interessa para nada, a capacidade de adaptação é a maior inteligência. Mas porque é que eu escrevo?
Escrevo como um diário, escrevo para a loucura da vida não me tornar ainda mais insano, escrevo para sonhar de olhos aberto, para namorar as milhares de mulheres das quais tenho medo, escrevo por a mão direita assim o comandar, escrevo por compulsão, é por isso que está cheia de aliterações e justaposições, costumo me defender argumentando: eu não escrevo, pinto palavras, e eu não escolho palavras, elas é que me escolhem.