Desculpa Florbela
Desculpa Florbela
Ser poeta é não ter tamanho fixo
É caber no pequeno das coisas inúteis e banais
E expandir-se daí em universos inteiros, no mesmo fôlego
É ser mendigo de forma própria
E querer ser Rei no amontoar das palavras
Castelos de razão e loucura
(e medo e esperança)
E é ter mil astros de desejo
E depois já sem fulgor
Quase esquecer o que se deseja
E sentir na pele crua cravado,
O tempo, como as garras de um condor
É ver no voar das asas o rasgar das manhãs sonhadas
E seria talvez amar perdidamente
Ou de outra maneira se a houvesse...
Mas as ausências rasgam o sonho por dentro das asas
E o tempo fica curto para amar
Inventamos palavras como “saudade”
E depois usamo-las até contra as paredes do que nunca foi.
Ser poeta há de ser rasgar a língua
Em traços de sangue e vida
No roer das unhas de não saber ser,
Nem agora, nem aqui.
Tiago Marcos
Nasceu em Cuba a nove de Março de 1987.
Em 2003 descobriu que as palavras podem tomar sentidos maiores do que ele, começando nesse ano, a sujar papel na esperança muitas vezes vã do eco. Surgem assim em 2003 os primeiros textos poéticos. Em 2008, mergulhado na cultura clássica e no paganismo panteísta, pelo desejo de descobrir valores mais fundamentais ao homem, funda juntamente com Luís Caracinha o Projecto Esfinge para o qual tem vindo a escrever letras desde então.