voltar ao índice

Que Bom é Ter as Mãos Sujas de Terra...

Que bom que é ter as mãos sujas de terra... que bom que é ter as mãos sujas de terra... que belo é o cheiro da terra embalada pelas primeiras gotas de chuva... As minha mãos colhem por onde passam... laranjas... romãs e figos-da-índia... que bem que sabe a fruta roubada... são rebuçados de adrenalina... ó menina... tu aí... sim... tu aí... que escondes os teu beijos que degustados são às escondidas... urtigas com sabor a caramelo salgado...donde vieste?! Para onde vais?! Nesse teu vestido branco florindo a primavera e abotoando o verão antecipado... falar contigo, põe-me a voz embargada como comesse um marmelo colhido à beira-rio... perdoa a minha sujidade e os calos das minhas mãos... mas eu nasci na fome... e com fome eu morri...

voltar ao índice

André Horta

Digo sempre que não sou supersticioso e que sou um ser super lógico, mas é mentira, é uma mentira que prego a mim próprio, como as outras todas que vou espalhando entre a minha pessoa e os outros que vão fugindo de mim, pois senti-me o homem mais azarento do mundo.
Nasci a 13, no mesmo dia em que a minha progenitora também tinha vindo a este mundo, e imaginem quem também nasceu a 13? O meu pai, mas não no mesmo mês. E esse número prosseguiu-me a minha vida toda. Mas isso não interessa para nada, o que quero demonstrar é que era uma pessoa negativa, bastante, odeie-me a mim, a todos e ao mundo, porque o reflexo do espelho não sorria para mim desde da infância, por vários motivos, por isso digo, a escrita salvou-me a vida, do suicídio, do ódio, aprendi a dizer que a pior droga que consumi foi o ódio, e olhem que consumi uma panóplia delas, até partir a escultura das trincheiras da primeira Guerra Mundial em que o meu cérebro se tornou, destrui-o em nano cacos, até tornar-me doente mental crónico, mas isso não interessa para nada, a capacidade de adaptação é a maior inteligência. Mas porque é que eu escrevo?
Escrevo como um diário, escrevo para a loucura da vida não me tornar ainda mais insano, escrevo para sonhar de olhos aberto, para namorar as milhares de mulheres das quais tenho medo, escrevo por a mão direita assim o comandar, escrevo por compulsão, é por isso que está cheia de aliterações e justaposições, costumo me defender argumentando: eu não escrevo, pinto palavras, e eu não escolho palavras, elas é que me escolhem.

André Horta
Anterior
Anterior

Arroz Que se Cose Fala e uma Solidão Aurorizada ​

Próximo
Próximo

Eu Vi o Paul McCartney do Meu Lado