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Pela Hora Clandestina

há sempre uma vaga
que queima pelas veias
e cresce no seio do mundo
eixo clandestino
em quase todas as histórias de amor

quase, quase sempre tudo
quase, quase sempre nada

uma língua desconhecida de um país distante
uma sombra ligeira, ferida de morte

quis deus refletido
nas cristalinas águas da montanha
e nos silêncios que desejavam romper
com os rostos de veludo na tristeza
pedi à razão que me desse um novo nome às cidades

e dos filhos cegos quis apenas a sombra
para que aprendessem assim de novo a ver
pedi à noção que me desse um novo mundo às palavras
para que assim pudesse ter uma arma para amar da intolerância da noite eu renasci

sempre percorrendo estas veredas imaginárias até ao deserto
aonde assim revi todas as pessoas outrora desaparecidas
e na alvura dos rostos das mulheres que nos esperavam
havia assim uma nova esperança
havia corpos turvos dançando entre firmamentos
escritos em poemas de sangue
guardados como recortes de jornal
numa jarra de vidro
depois de transcritos no papel raro dos peregrinos
escondi-os
entre os bosques de Averno
de onde só os desenterraria
na promessa de te voltar a rever

e das estrofes que nos falavam de ilhas
ouvia se o grito do homem da torre de vigia
instante eternizado
entre as pessoas que viviam como em carreiros de formigas
talvez habitantes elas mesmas
em ilhas de si própria

- a fuga meu amor
essa virá em carros alegóricos
na primavera tolhida pelo espanto

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Hugo Neves

Sou proveniente de Lisboa, mas vivi grande parte da sua vida entre o Algarve e o Alentejo de onde a minha familia é originária. Escrevo e leio o primeiro poema aos 15 anos no patio da escola e parti daí tornei-me o letrista oficial de algumas bandas de amigos. Primeiro a música , depois mais tarde as viagens e a redescoberta de um mundo mais marginal. Os outcasts, vivendo outrora esquecidos. E aprendendo assim lições de vida com pessoas que viveram as suas vidas fora das escolas instituições e do "politicamente correcto". Tudo isto foi sempre um pouco do que de uma forma bastante simples inspirou me a escrever até hoje.

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