A Última Vez
Ouvi-te uma última vez no silêncio de uma noite quente com a lua a pressentir a nossa despedida. Despedi-me de ti com o rosto coberto de lágrimas espelhadas com sabor a saudade. As janelas do quarto permaneceram fechadas dias a fio, e as paredes continuavam tão cheias de ti na tentativa de recuperar a intensidade perdida na duração de um beijo com gosto amargo.
Sentia o toque da minha mão a querer beijar-te o rosto uma última vez. A sufocante sensação de te querer e não te ter. Mesmo no silêncio da noite conseguia ler os teus lábios, sentir a suavidade de cada traço teu. Hoje és um ser livre. Livre daquilo que dois corpos tendiam ao desgaste de um amor não correspondido. E eu desprendi-me do medo, no dia em que o brilho do céu e o doce amar colidiram à minha frente. Ficaram apenas as cicatrizes por sarar. Essas marcas voarão com o vento como todas as folhas das árvores em dias de chuva.
Não fomos estáveis. Tínhamos as mãos cobertas de angústias passadas. Deixámos o amor morrer aos poucos, na segurança de que tudo é garantido. Mas a vida também engana. Perdemos a impetuosidade de dois olhares. Deixámos desvanecer a chama que morrera na leveza de dois corpos. Corpos esses cheios de nada. Restaram as palavras gastas num tempo incerto. Tempo esse que já não é nosso.
Inês Palminha
Nasceu a 29 de janeiro de 1997, em Faro. Cresceu na cidade de Viseu, mas atualmente, reside em Faro. Neste momento, está a finalizar uma licenciatura no curso de Educação Social na Universidade do Algarve. O gosto em compreender e ajudar os outros está-lhe nas veias e pretende fazer disso a sua vida.
A paixão pela escrita surgiu numa fase significativa da sua vida, que lhe abriu portas para transcrever todas as emoções à flor da pele. Não esconde o sonho de vir a escrever um livro da sua autoria e afirma que somos do tamanho daquilo que sonhamos e não daquilo que nos destrói. Gosta de café e de escrever ao som do mar.