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Poemas do Sol e do Mar

DO ALTO DO MONTE

Do alto do monte
olho os teus cabelos, por entre as janelas
da cidade.
Vejo os teus olhos, semicerrados, do sol de março,
e molhados da água salgada que escorre,
do meu nariz.
Trinco um feijão e recordo o teu peito, comovido.
E no quadro que pintas, está sempre a lua, cheia de sol.
Do sol que sonhas, para além da janela do teu quarto.

O SOL É LARANJA

O sol é laranja
e o meu corpo bebe-o, sofregamente,
na areia molhada de encarnado.
Só o meu sexo resiste, ao banho frio da tarde.
Mergulho três vezes nas entranhas do teu corpo,
cor de rosa,
como se me estendesse na água, turva, do rio.

A ESPUMA DAS ONDAS

Vejo-te deitada
sobre a espuma das ondas,
com os olhos fixos no sol.
O teu corpo escurece, como as pálpebras
dos meus olhos, quando olham os teus.
O sol é quente? Ou são quentes os olhos
que o choram?

CAFÉ

Nunca cheiras
a café.
Mas hoje,
sabes, como sempre,
também.

ESTE É UM POEMA

Este é um poema que fala,
sem a presença dos outros.
Um espaço húmido de chuva,
transparência de sol e folhas verdes.
Só uma palavra se suspira, calando
os outros suspiros, entediados
e breves,
como efémero é o desejo.

A FLORESTA

A floresta
não tinha outras clareiras,
senão
os nossos pensamentos.

ARTIFÍCIOS

O desequilíbrio, é apenas
uma forma de posição
no nosso olhar.
Digamos que um artifício
do nosso racional, sobre
o que brota, sem sentido,
de nós próprios.

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Helder F. Raimundo

Nasceu em Portimão em 1956 e vive em Loulé, no Algarve. É mestre em Educação de Adultos e tem curso de formação avançada de doutoramento em Formação de Adultos. Investiga e publica nas áreas da educação, das culturas, da etnografia e da etnomusicologia. É autor do livro sobre a história do Grupo Folclórico da Casa do Povo de Alte. Coordenou a edição do catálogo da Tradição Musical de Loulé.
Publicou microcontos nas revistas «minicontos», «minguante», «Letrário» e «Bestiário» e poesia na revista «Máquina do mundo»; dois poemas seus constam na Antologia da Poesia Portuguesa Contemporânea, "Da Poesia IV". Foi colunista do jornal "A Voz de Loulé" e cronista pontual do jornal "barlavento". Coordenou o suplemento "a cultura" em "A Voz de Loulé" e o jornal virtual "a cultura é para se comer".

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