Onde Andas?
Onde andas?
Só te vejo de costas/a luz do sol é absorvida por ti
já não me encandeia/tento tocar no teu ombro
mas falho por milímetros
é sempre por milímetros que novamente falho
esses milímetros são a minha prisão a minha cadeia
sou ator sem papel no teatro/o assombro aumenta exponencialmente
só de te imaginar
na próxima esquina
estás sempre à minha frente
e por mais que corra/estarás sempre na próxima esquina
só vejo preto
só vejo negro
enegrecido coração que canta desafinado, mas ainda sente a voz interior chorando a alegria réptiliana
calça os saltos-altos/põe o colar de pérolas falsas com duas voltas ao pescoço e os brincos
e deixa-me fechar o teu vestido
nunca mais a almofada asfixia-me de tanto sonhar contigo
afogo-me em algodão-doce com a textura dos teus colãns
não digo o que faço com as minhas mãos
porque não se diz
faz-se
não se diz
nem se escreve
faz-se
André Horta
Digo sempre que não sou supersticioso e que sou um ser super lógico, mas é mentira, é uma mentira que prego a mim próprio, como as outras todas que vou espalhando entre a minha pessoa e os outros que vão fugindo de mim, pois senti-me o homem mais azarento do mundo.
Nasci a 13, no mesmo dia em que a minha progenitora também tinha vindo a este mundo, e imaginem quem também nasceu a 13? O meu pai, mas não no mesmo mês. E esse número prosseguiu-me a minha vida toda. Mas isso não interessa para nada, o que quero demonstrar é que era uma pessoa negativa, bastante, odeie-me a mim, a todos e ao mundo, porque o reflexo do espelho não sorria para mim desde da infância, por vários motivos, por isso digo, a escrita salvou-me a vida, do suicídio, do ódio, aprendi a dizer que a pior droga que consumi foi o ódio, e olhem que consumi uma panóplia delas, até partir a escultura das trincheiras da primeira Guerra Mundial em que o meu cérebro se tornou, destrui-o em nano cacos, até tornar-me doente mental crónico, mas isso não interessa para nada, a capacidade de adaptação é a maior inteligência. Mas porque é que eu escrevo?
Escrevo como um diário, escrevo para a loucura da vida não me tornar ainda mais insano, escrevo para sonhar de olhos aberto, para namorar as milhares de mulheres das quais tenho medo, escrevo por a mão direita assim o comandar, escrevo por compulsão, é por isso que está cheia de aliterações e justaposições, costumo me defender argumentando: eu não escrevo, pinto palavras, e eu não escolho palavras, elas é que me escolhem.