Existe em Nós uma Tristeza Latente
Existe em nós uma tristeza latente
Que faz de nós perfeitos hipócritas
Quando respondemos à vizinha
“vai tudo bem! E consigo?”
(como se quiséssemos saber)
E às vezes até queremos.
Mas quase nunca àquela hora…
A chegar a casa na esperança do banho e do sofá,
Da televisão atroz, muitas vezes, mas presente…
Porque silêncio é que não…
Não podemos correr o risco de começar a pensar…
Sabemos que a tristeza existe,
Mas é bem melhor mantê-la debaixo da pele
Existe em nós uma tristeza latente que nos encolhe,
Nos braços e nos versos
E ou foi porque o Sebastião não veio, e temos de ser nós…
Ou porque a flor do quarto, ainda que a tenhamos regado,
Murchou.
E falo de nós enquanto gente por medo, talvez…
Generalizo para defender
Como um general russo à espera do frio sob as palavras
Digo agora melhor,
Existe em mim uma tristeza latente
E a sua fonte há-de ser a mesma donde brotam as palavras
E escrevo agora compulsivo como quem se escava
Mas por mais fundo que vá
Só há medo e esperança…
E eu queria para este texto imagens bonitas e brilhantes
Mas o medo é deserto de dunas estanques
E a esperança escapa sempre aos dedos e à tinta
É talvez dessa distância que fale
Esse mar intransponível entre os dedos e o resto.
A lua está cheia
E mais Longe não sei ver.
Tiago Marcos
Nasceu em Cuba a nove de Março de 1987.
Em 2003 descobriu que as palavras podem tomar sentidos maiores do que ele, começando nesse ano, a sujar papel na esperança muitas vezes vã do eco. Surgem assim em 2003 os primeiros textos poéticos. Em 2008, mergulhado na cultura clássica e no paganismo panteísta, pelo desejo de descobrir valores mais fundamentais ao homem, funda juntamente com Luís Caracinha o Projecto Esfinge para o qual tem vindo a escrever letras desde então.