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Um Dia Vou Roubar-te a Noite

Seguras-te com as duas mãos, na ânsia do dissecar dos órgãos. 
Um dia vou roubar-te a noite, na quietude de ela voltar para ti, 
Pois a insolência da emancipação, traiu o que ela prometia trazer. 

Estreia-se, à noite, uma rua de portas onde o sol se esconde, 
E quase... quase esculpo os pés na pedra, a um palmo das asas, 
Para lá da parede onde se ouvem os ecos do mundo, agora, vazio. 

Entre a parede e a respiração, existe o nada que em dois se cruza, 
É o alongar do suspiro no tempo, que em tempos foi, e se agora é, 
São sombras lançadas ao sonho. 

Espelham-se os reflexos da janela nos olhos e o sopro da boca, 
Que em silêncio, ao nada diz: É a voz da conversa entre a parede e o nada, 
O intervalo em que dois se cruzam rompendo a vista e o pensamento.
Seguras-te com as duas mãos, e um dia, vou roubar-te a noite. 

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Sara Martins

Sara tem 26 anos e é natural de Monchique.
A inspiração sempre lhe correu nas veias e o gosto pelas artes e palavras ajudou em muito a escolha da sua área de formação - artes visuais -, onde aprendeu a observar o mundo de uma forma mais atenta. Foi aí, num período de descobertas, que o seu interesse pela leitura despoletou entre Fernando Pessoa e Cesário Verde: dois grandes mestres que a levaram a ler ainda mais. A necessidade de escrever juntou-se ao gosto pela observação e pela leitura e assim nasceram os seus primeiros poemas.
Em 2015, Sara Martins trocou a serra pela cidade e mudou-se para Faro. Entre o ensino secundário e o ensino superior, decidiu tirar um tempo para si mesma e focou-se na escrita.
Atualmente, Sara é licenciada em Design de Comunicação pela Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve e exerce a profissão. Não deixou de escrever, pelo contrário, tem vindo a desenvolver textos e poemas que agora agrupa numa só obra. "No Avesso das Horas" é o seu primeiro livro.

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