Flor Silvestre
Pequena flor silvestre, sinto em ti o cheiro meigo a primavera. Bela. Livre. Tanto aqui pertences como és cativa de lugar algum. Filha da terra, irmã do sol, amante do vento e confidente da lua. És livre. Tão livre quanto o mar.
Hoje, contemplo a azul planície abraçada pelos céus. Olho encantada as formosas copas lançadas ao firmamento. Encontro conforto aqui, perdida entre o céu e a terra, sem lugar onde estar ou momento a agarrar. O tempo, esse, ditam-no as estrelas. E eu, enfim, sinto em mim escapar-me a mente. Ela voa… Voa alto que nem cegonha imponente, que nem condor-dos-andes implacável.
Os pés descalços na erva fofa prendem-me o corpo à lucidez da terra. Mas a alma foge-me, atrevida, embriagada em sonhos que tais. E tu, querida flor de pétalas douradas, és cortejada pela doce brisa de sul chegada. As abelhas vos saúdam. Outros insetos por vós caminham. As aves compõem a melodia que desperta essa valsa apaixonada.
Deixo-me assim ser embalada por vossa dança tão sincera. Fecho os olhos e suspiro. Tenho-os quase adormecidos. Sonharás como eu sonho? No que pensa uma flor? Eu deslizo para onde nunca estive, desenho cenários de puro amor. Neles encontro o esplendor da vida. O simples ato de se ser. Sentir o ar, sentir a terra. Quantas vidas foram por nós esquecidas de se viver?
Cheiras a orvalho. Transpiras graça e perfeição. De corpo emoldurado pelo vento, a tua valsa é minha de eleição. À tua doce existência, não cultivas medos de te entregar. Vem ensinar-nos, então, pequena flor silvestre, a viver sem medo de dançar.
Catarina Calvinho
Apaixonada pela natureza, pela misteriosa essência dos gatos e por cinema de animação. O seu percurso tem sido pautado pelo balanço entre a vertente académica do cinema e o fértil terreno prático da animação. Completou o mestrado em Cinema na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa, em 2019, e corealizou, no mesmo ano, o episódio do Lince-Ibérico, realizado por Pedro Serrazina, para a série de animação infantil “CRIAS”. Ainda aluna, realizou e animou sob a supervisão de Pedro Serrazina e José Miguel Ribeiro uma curta-metragem de animação intitulada “Querido Algarve” (2018). Com o coração cheio, relembra o momento em que o seu filme ganhou o prémio de Melhor Curta de Estudantes Portuguesa no festival MONSTRA (2019), foi selecionado para a I Mostra de Cinema Português (2019), nomeado para o Prémio Nacional da Animação pela Casa da Animação (2018) e exibido no Porto/Post/Doc: Film & Media Festival (2018). Atualmente, é assistente de realização na longa-metragem de animação portuguesa “Nayola”, realizada por José Miguel Ribeiro. Quando não está a trabalhar, podem encontrá-la a passear por algum lugar soalheiro e preenchido de verde ou a desenhar coberta de mantas...