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Atirem-me com Ferros Feitos Faca

Atirem-me com ferros feitos faca
Atirem-me com facas feitas lume
E com todo o bem e todo o mal
E com tudo o que estiver no meio.
E hei-de escrever sobre isso...
Tirem-me o sol a queimar a pele
E os olhares nocturnos no luar
Tirem-me a distância do mar dos olhos
E a firmeza certa da terra nos passos
Tirem-me o corar vago das nuvens no crepúsculo
Ou da noite um longínquo ladrar qualquer
A lembrar que o mundo não acaba no que vejo
E hei-de escrever Saudade
Atirem-me com todas as manhãs cinzentas
E todos os cinzentos manhosos que lá moram
Atirem-me com o bafo cavernoso de quem mal pensa
E com a prepotência de quem pensa saber tudo
Atirem-me os olhares de esguelha
E os sorrisos falsos sempre abertos
Atirem-me tudo o que é despesa e falta de maneira de pagar
E hei-de desenhar lamúrias ou gritos
Planos de revolta ou de fuga
E hei-de escrever sobre isso
Tirem-me a pele alheia
E depois a minha
Que na ausência perdeu a serventia
Tirem-me tudo que o que sou haverá de escrevê-lo
Atirem-me com tudo
Que tudo é tinta

Não me tirem as palavras

Tiago Marcos

Nasceu em Cuba a nove de Março de 1987.
Em 2003 descobriu que as palavras podem tomar sentidos maiores do que ele, começando nesse ano, a sujar papel na esperança muitas vezes vã do eco. Surgem assim em 2003 os primeiros textos poéticos. Em 2008, mergulhado na cultura clássica e no paganismo panteísta, pelo desejo de descobrir valores mais fundamentais ao homem, funda juntamente com Luís Caracinha o Projecto Esfinge para o qual tem vindo a escrever letras desde então.

Tiago Marcos
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Ser pelo Gosto de Viver, ou pela Ânsia de Vencer?