Não Bastam os Cantos
O que esperavam ver à hora de olhar as janelas?
À luz a que se deixaram, bastaram os cantos,
Que de tantos, deixaram-nos os olhos famintos.
Resistimos mudos à beleza da morte das nuvens,
Já que não passamos todos de pedaços de carne dura,
Vítimas do ruído dos ferros, amargos e jamais doces.
As coisas nunca se desaprenderam de ser,
As sombras não se criaram nem se apagaram,
Elas, fiéis, nunca nos abandonaram,
Seremos, igualmente, orgulhosos ossos de roer.
Não cabem dentro dos cantos?
São tantos os reflexos que não se suportam.
Não odeiam o vazio da rua,
Repugnam os vossos ecos dentro das grades.
Não são cantos, nem quartos, nem casas,
São quantos os quadros que os deixam em pele e ossos...
Os olhos fechados, enxutos pelo gosto,
Esganados pela fome de se olharem e verem-se na chuva.
Bastaram os cantos para pararem de fugir de vós próprios,
O que esperavam ver à hora de olhar as janelas?
Sara Martins
Sara tem 26 anos e é natural de Monchique.
A inspiração sempre lhe correu nas veias e o gosto pelas artes e palavras ajudou em muito a escolha da sua área de formação - artes visuais -, onde aprendeu a observar o mundo de uma forma mais atenta. Foi aí, num período de descobertas, que o seu interesse pela leitura despoletou entre Fernando Pessoa e Cesário Verde: dois grandes mestres que a levaram a ler ainda mais. A necessidade de escrever juntou-se ao gosto pela observação e pela leitura e assim nasceram os seus primeiros poemas.
Em 2015, Sara Martins trocou a serra pela cidade e mudou-se para Faro. Entre o ensino secundário e o ensino superior, decidiu tirar um tempo para si mesma e focou-se na escrita.
Atualmente, Sara é licenciada em Design de Comunicação pela Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve e exerce a profissão. Não deixou de escrever, pelo contrário, tem vindo a desenvolver textos e poemas que agora agrupa numa só obra. "No Avesso das Horas" é o seu primeiro livro.