Faena
Faena usou todas as suas forças para dobrar as barras da gaiola onde estava presa. Humanos estúpidos subestimavam sempre o quão fortes eram as “pequenas” e “indefesas” fadas. Livre da gaiola, mas ainda presa dentro do quarto que tresandava a álcool e queijo, tinha de encontrar a sua lança antes que aquele humano imundo voltasse.
A sua arma era a única maneira que tinha de matar aquele gordo. Mas era impossível encontrar o que quer que fosse naquela pocilga cheia de caixas, garrafas e roupa suja.
Onde tinha o humano guardado a sua lança? Por mais caixas e gavetas que abrisse, Faena não a encontrava. Talvez devesse simplesmente tentar fugir quando o humano abrisse a porta, dando uso às suas asas velozes, mas aquilo já era demasiado pessoal para deixar que ele saísse daquela vivo. Empurrou uma caixa, só que ao fazê-lo, fez com que várias garrafas caíssem e fizessem um estrondo enorme ao estilhaçar-se, espalhando álcool no chão.
Imediatamente, o humano abriu a porta e entrou no quarto… palitando os seus dentes nojentos com a lança da fada.
Ele reparou logo em Faena fora da gaiola e alcançou um saco como o que usara para a apanhar, furioso. Faena não teve tempo para pensar, pegou num estilhaço de vidro no chão e voou tão rápido quanto conseguiu. Contornou o homem, escapando ao saco, e lançou-se contra a cara do mesmo, cravando-lhe o vidro no olho direito. O humano chiou.
Ele tropeçou e escorregou na poça de álcool, deixando que Faena lhe roubasse o saco e o enfiasse na sua cabeça, puxando para o lado para o sufocar. O humano gesticulou-se em desespero por uns instantes, os gritos abafados pelo saco, até que os seus braços caíram mortos sobre a sua pocilga.
Faena recuperou a sua lança e voou em direção à liberdade, não antes de cuspir para cima daquela criatura repugnante.
Hugo Campos
Nasceu em 1991 e cresceu na cidade de Lagos, encontrando-se atualmente a morar em Loulé. O seu gosto pelo fantástico levou-o desde muito cedo a inventar histórias sobre lugares e personagens inexistentes, num universo partilhado chamado Taurac.