Café de "Escolateira"
Sou do tempo em que ao pequeno almoço se bebia café de "escolateira" e se comia torradas feitas nas brasas da lareira, ou migas com azeite.
O meu bisavô fazia-as com tanto carinho que o sabor não tinha explicação.
Não tinha televisão a cores e os meus dias, depois de feitos os trabalhos de casa, eram passados na rua, a jogar ao elástico, à macaca ou simplesmente na conversa com as amigas.
Não tinha telefone, telemóvel e nem computador...
O telefone chegou a casa tinha eu já 8 anos.
Aos 12, com muito esforço do meu pai, ganhei uma máquina de escrever e só aos 18, quando entrei na universidade soube o que era ter um computador e aos 19 um telemóvel, um audiovox enorme.
Lembro-me tão bem...
Fiz telescola do quinto ao sétimo ano, na minha aldeia.
Quando contava estas coisas à minha filha ela dizia me: mãe, tu vivias no terceiro mundo!!
Não vivia...
Mas também não soube o que foi passar por uma pandemia como que a temos experenciado, talvez tudo tivesse sido bem diferente...
Como mãe, achava que as tecnologias entravam cedo demais na vida das crianças, o que não lhes permitia desenvolver outras valências e capacidades, nomeadamente a socialização.
A verdade é que jamais imaginava que agora, têm sido as benditas tecnologias a permitir que possamos "viver” fechados em casa.
A minha filha tem aulas pelo classroom, aulas na RTP memória, explicação pelo Whatsapp e o meu filho faz teleterapia através do Zoom.
O que teria eu feito na idade deles?
Nada... Parava o mundo.
Graças a Deus e aos homens, evoluímos nos últimos 30 anos, o suficiente, para conseguirmos fazer em casa "quase tudo"
Quase...
Estaremos a chegar ao fim desta calamidade, assim espero.
Nessa altura, não esquecendo as tecnologias, vamos todos beber um café de escolateira e comer umas torradinhas na braseira perto de quem amamos e temos tantas saudades?
Não para esquecer o presente, porque isso talvez nunca, mas para acalmar a mente e o coração e sonhar com um futuro risonho...
Sandra Ramos
Nasci em Faro há 42 anos atrás, mas foi no Alentejo, em Almodôvar que cresci e vivi até aos 18 anos, altura em que regressei a Faro, para frequentar a universidade. Sou licenciada em turismo, na vertente de marketing.
Sou colaboradora da Câmara Municipal de Faro há quase 20 anos, 12 deles passados na administração do mercado municipal de Faro. Neste momento íntegro a equipa maravilha da divisão de desporto do município. Sou mãe de dois filhos, uma Lara de 13 anos e um Diogo de 4. A escrita sempre fez parte da minha vida. Durante anos escrevi textos e poemas, que há dois anos atrás, com a ajuda da Epopeia Books, consegui partilhar, através da publicação do livro “ilusão”.